"Sinônimo de amor é amar" - O amor depois de ler Bell Hooks.
- Mar
- 8 de fev.
- 4 min de leitura

Esses dias escutei uma conversa entre duas pessoas dizendo se decepcionar ao ler Bell Hooks porque pareceu um livro de autoajuda barata. Interessante, para mim esse livro foi muito importante. O que me parece que:
O momento que você tem contato com algo também é importante, talvez até mais do que o conteúdo desse algo.
Enfim, ainda que esse livro não tivesse tido um impacto direto nas minhas relações como deveria ter tido (ou pelo menos que eu não tenha percebido), a linguagem simples e escrita coesa (diferente da minha hehe) de Bell Hooks me interessou muito e também me cativou, explicando me coisas que eu achava que sabia, mas jamais havia me dado conta.
"Sinônimo de amor é amar" - A parte que mais me tocou no livro, pode ser até uma referencia à musica de Chitãozinho e Xororó (nem sei se foram eles mesmos que cantaram), na qual afirma que o AMOR é uma ação e não um sentimento. Quando li esse livro - diferente das meninas que bisbilhotei - eu era mais nova, devia ter uns 14 anos, então provavelmente eram realmente informações novas para mim. Mesmo assim, algumas coisas se sedimentaram em mim e basilaram toda uma percepção de amor que desde a infância já estava em desconstrução, talvez na verdade nem estivesse em desconstrução mas em uma infinita construção contraditória nos quais seus elementos se atritavam e por metabolismo se transformavam.
Por exemplo, Bell Hooks foi a pessoa que introduziu pra mim a ideia de que amor não coexiste com abusos. O luto que isso me trouxe foi bastante longo e dolorido, porém é importante perceber o contexto e as nuances que ela fala também. Mas de certa forma, o amor realmente não coexiste com abuso (leia-se abuso qualquer forma de controle, manipulação, toxidade praticada por alguém). E na época, isso ressignificou toda a minha visão pseudorromântica dos 14 anos, além da quebra de toda a imagética que existia entorno da minha família e do amor como um todo. No entanto, sempre existi no espaço entre duas contradições, então nunca cheguei de fato a mobilizar uma ação que levasse o livro em consideração. Pois além de negar uma visão baseada em "disneylandia" e "caval(h)eiros", também inseriu-se um outro ideal: O amor real! O amor realista. Que muitas vezes parece tão ideal quanto a fantasia infantil de ser salva de um dragão em um castelo.
Hoje em dia tenho mais elementos para lidar com a frustração da impossibilidade do amor coexistir com abuso, porque aprendi as nuances, a (falta de) consciência, aprendi acerca da empatia, e também da espiritualidade, ou seja, de como aplicar o divino no dia a dia. E assim, portar-me como um centro de difusão daquilo que acredito, porque no fim. A aplicação de uma leitura é muito importante, principalmente em como ela se relaciona com algo já dentro de você e se transforma (exatamente o significado de metabolismo que aplico aqui). Outra coisa bastante falada no livro é a questão do amor ser uma ação. O que pra mim é interessante, talvez tenha uma nuance de linguagem aqui, no sentido de que amor em inglês é love e amar é love também, ou, to love, então a frase provavelmente seria Love is To Love. Soa mais disruptivo em inglês, claro. Mas em português já até temos essa nuance na nossa própria maneira de conjugar os verbos. Por exemplo: Amor é amar (valeu chitãozinho e chororó). Mas para mim, resumir o amor só as ações também é algo incompleto, porque isso se relaciona com outros elementos em mim que contradizem essa definição. Não acho que ela está errada, mas é apenas limitada. Já, já explicarei.
Mas quando li o livro, realmente levei isso ao pé da letra, como quase tudo que faço, o que colaborou e muito para que eu entendesse que só as palavras não são suficientes quando elas não estão alinhadas com ações. Talvez isso também tenha colaborado com minha dificuldade em falar sobre meus sentimentos porque aparentemente o amor é amar. E é aí que entra a limitação dessa afirmação. Obviamente o amor é contingente ao amar, mas não se resume apenas a isso. Se temos duas palavras, o amor, além de verbo (ação), é também adjetivo, porque descreve quem é Deus e quem amo. Amor é nome, é vocativo. E sendo também um substantivo é em si mesmo, objeto e sentimento.
A minha busca por definições me acompanha desde pequena, e sempre me coloco distante dos significados reais porque me parece que as palavras não alcançam perfeitamente as complexidades dos conceitos. Lembro-me de um dia que li sobre as fronteiras frágeis dos conceitos, pode ser interessante falar sobre isso em outro momento.
Mas para finalizar então, sobre a Bell Hooks. Agradeço imensamente o impacto que o livro dela teve em minha vida porque até hoje reflito sobre as coisas que aprendi ali. Para alguns, pode parecer óbvio, os assuntos que ela traz, mas para mim, foi um pontapé inicial para organizar meus próprios pensamentos, amadurecer meus ideais e aprender alguns conceitos novos sobre as quatro letras que me assombram. Espero não ter dado spoilers sobre o livro, mas independente de qualquer coisa, recomendo a leitura, sempre com a ressalva de que você tire suas próprias conclusões.
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