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A dor e o otimismo

  • Foto do escritor: Mar
    Mar
  • 6 de nov. de 2024
  • 7 min de leitura



Acredito que seja importante a cada post, colocar definições acerca das palavras que eu uso, imagina alguém (voz hipotética) lê o que escrevo e no fim da leitura percebe que eu estava falando sobre outra coisa completamente diferente?

Frente a isso, para entender o que eu me refiro aqui a otimismo é uma forma de projetar a vida e não ignorar o aspecto indesejado da realidade atual. Tem uma grande diferença em dizer que está tudo bem quando não está e dizer que vai ficar tudo bem, ou que pelo menos, pode ficar tudo bem.

Muitas pessoas tendem a ver o otimismo como o meme do cachorrinho num incêndio, mas também é possível ver de forma diferente. Uma pessoa otimista não ignora a realidade, mas busca uma saída positiva para as mazelas atuais.

Interessante citar que um otimista não ignora a realidade, porque temos literalmente uma outra "categoria" de pessoas que são chamadas de realistas.

E a diferença para mim está no tempo.

Uma pessoa realista, só pode ser realista acerca do passado e do presente, pois só temos a realidade a medida em que ela se materializa. O otimismo e o pessimismo são categorias que projetam o futuro ou que caracterizam o presente/passado, já quando dizemos que uma pessoa é realista, tendemos a achar que ela parte de um ponto imparcial, que analisa todas as possibilidades e que não é nem otimista e nem pessimista. Mas eu discordo da semântica que é geralmente utilizada, porque ainda que uma pessoa analise o futuro sem otimismo ou pessimismo, não é possível dizer que é realista, já que ainda não aconteceu.

O pessimismo e o otimismo são visões de um mesmo espectro acerca da realidade. Então, se você não é pessimista, nem otimista, não tente defender que você é realista, já que a realidade futura projetada, não pode ser chamada de realidade por si só, mas como uma possibilidade, ou seja, aquilo que pode vir a acontecer.

Por isso o pessimismo e o otimismo são interpretações de uma análise da realidade. Tá, mas então encontramos uma lacuna linguística temporal.

O que eu quero dizer com isso é que ser realista ou não independe de ser pessimista ou otimista. Isso é, ter uma visão realista da vida não impede de interpretá-la de forma positiva ou negativa.

Então quando eu digo sobre otimismo, estou dizendo sobre esperança de um futuro bom APESAR da realidade atual. E isso causa dor, quando há o conflito da esperança de um lugar melhor e a análise da realidade.

O otimista só tem dor quando percebe que o que ele esperava deve ser adiado pela análise realista da realidade. Um exemplo é a fome. Muitas pessoas passam fome e não têm o que comer. Isso é um fato. Alguns entendem que uma pessoa otimista é aquela que não vê que as pessoas passam fome e acreditam que não há pessoas que passam fome. Mas eu vejo o otimista como uma pessoa que vê a possibilidade de mudança, ou que vê a mudança no campo da possibilidade. Mas qual a diferença? Ver a possibilidade de mudança tem uma nuance de que o caminho para a mudança está claro, e uma mudança no campo da possibilidade é acreditar que há uma forma ainda que não necessariamente tenha uma resposta pra isso. E aí está a causa da dor.

O pessimista pode encontrar um conforto no "não há nada a ser feito", mas uma pessoa que tem esperança tem que lutar para manter a esperança mesmo na adversidade, para que consiga fazer algo ao seu alcance para deixar a realidade mais próxima da "ótima" realidade que projeta. Considerar a realidade ao ser otimista é um desafio, porque a realidade pode ser devastadora, e admitir que ela é devastadora não é pessimismo. Pessimismo para mim é a desistência perante a devastação da realidade.

Ainda que a realidade seja devastadora, o otimista tende a buscar aspectos da realidade que sejam positivos, e deveria, na minha visão, buscar métodos de multiplicar esses aspectos.

Acredito que há muitas pessoas que tem esperança de uma mudança, mas, devido alguns imprevistos, podem ficar presos no sentimento de frustração que a quebra de expectativa lhe causou. Um otimista tem que recalcular a rota muitas vezes e isso pode drenar a energia também.

Há uma angústia em ser otimista, uma angústia em acreditar na mudança, há uma angústia em levantar todos os dias com a esperança de algo novo. Mas há também um benefício pessoal em não desistir de acreditar, de olhar nos olhos das pessoas e imaginar que podemos criar um mundo mais justo e melhor. Se não acreditarmos, nada vai mudar de fato, e se acreditarmos, há pelo menos a possibilidade de mudança.

Otimismo sem realidade é uma fantasia, uma ilusão. Geralmente, quando falamos desse tipo de ilusão, as promessas são individuais. Você é melhor que todo mundo. Você é especial. Você vai vencer.

O problema está quando colocamos a vitória no plural, aí somos convidados a observar a realidade e ver se é possível uma saída coletiva para o caos que estamos vivendo. E para mim, sim. É possível.

Como?

Não sei. Mas o que sei é que no momento em que acredito ser possível, consigo começar a pensar em possibilidades de isso acontecer.

E no caso, qual a diferença entre uma saída individual para o problema e uma saída coletiva, já que ambas podem ser consideradas positivas.

A diferença está na lógica. Quando transportamos a esperança de um futuro melhor para um âmbito individual, impedimos as pessoas de criarem conexões que permitam grandes mudanças.

Ainda que ambas as formas de liberdade sejam difíceis de conseguir, apenas com mudanças coletivas podemos de fato mudar como o planeta funciona. O aspecto individual nunca pode ser ignorado, mas ele deve ser reconhecido em sua limitação de impacto. O otimismo individual não corresponde a uma mudança da humanidade, mas uma mudança temporária em um espaço pequeno com poder de impacto limitado. Além de criar desconexão, esse tipo de individualismo impede o pleno desenvolvimento da humanidade, o que pela lógica, é um desperdício de recursos, de tecnologia e de possibilidades. Uma pessoa que conseguiu diversas coisas na vida (jamais conseguirá sozinha, mas digamos que tenha recebido muitos recursos para si.), se não circular o conhecimento, então ao morrer, morre também todo o resto, enquanto que em uma visão mais sistematizada, o planeta como um todo seria impactado, (obviamente sei que tudo impacta, mas estou falando do potencial de impacto positivo - e ético).

Talvez hoje seja um pouco mais dificil porque essa visão de olhar para o coletivo é vista com maus olhos, e uma pessoa que consegue ascender de alguma maneira, seja status, poder ou qualquer outra coisa causa um grande impacto inspiracional, isso é, um poder de atração que puxa as pessoas para tentarem seguir o mesmo caminho ou terem os mesmos objetivos. Logo, há um impacto em muitos indivíduos, mas não necessariamente um impacto coletivo de ascensão da espécie humana.

Então um otimismo coletivo (e aqui eu não digo apenas em um nível macro) é a única saída para a humanidade como um todo. Ainda assim, é necessário pensar em si, o individual é necessário, mas limitamos nossas capacidades quando pensamos apenas pelas lentes individuais.

A coletividade produz nossa individualidade e através da nossa individualidade podemos fazer alguma mudança de fato para a coletividade. É um ciclo sistêmico fechado, no qual o todo também é agente (e a gente xD), e não mera soma das partes. Por isso não nego o individual, apenas reconheço sua limitação.

Acredito que eu tenha saído pela tangente, no tema de hoje, mas também não vou mudar o título.

Vamos voltar ao assunto da dor do otimismo e relacionar com esse exemplo para finalizar.

Quando uma pessoa é otimista e individualista, ela também pode sofrer com as decepções, mas dificilmente encontrará caminhos para a superação das dificuldades, o que poderá causar uma culpabilização de si mesmo ou até um giro para o pessimismo, devido tamanha forma de frustração.

O mesmo pode acontecer com uma pessoa que tem uma visão otimista da realidade, que há coisas boas, que podemos aproveitar a vida, que há alegria, caso fique presa na frustração. A frustração é importante, para revelar a sujeira debaixo do tapete, mas podemos utilizar do otimismo como uma forma de agir e ver a vida. Trazendo confiança, tanto em si mesma quanto nos outros.

Nesse sentido, o otimista pode se machucar no processo de buscar um mundo melhor, mas ao mesmo tempo é justamente o otimismo (isso é, a esperança) que é a força motriz para a movimentação de uma pessoa.

O otimismo em relação aos outros também está incluso nesse desespero, como quando você sabe que uma pessoa tem muito potencial, mas não tem oportunidades para expressar esse potencial, ou não tem atitude para atingir esse potencial ou até mesmo se recusa a atingir o potencial, as causas são diversas, mas o resultado e o sentimento é o mesmo: desespero por esperançar.

Quero escrever mais sobre o potencial das pessoas futuramente.

E se, um dia, eu parar de acreditar, tanto num mundo melhor ou na melhoria das pessoas, talvez eu sinta menos dor. Talvez eu tenha menos decepções. Talvez eu tenha menos frustrações. Mas minha ideia não é limitar minha experiência humana e sim fazê-la mais rica. O meu objetivo pessoal para manter o otimismo é diminuir a carga de tempo em que eu fico no sentimento de frustração e diminuir a distancia temporal de quando eu começo a sentir para quando eu volto ao meu estado otimista de ver a vida.

E entender as minhas limitações individuais, sem perder a esperança e a empatia, mas espalhando luz e amor (seja em forma de comida, para alguém que precisa, em forma de trabalho ou até em forma de palavras).

Como pode algo tão dolorido como o otimismo ser tão querido?

Só de escrever esse texto, já me sinto de volta ao meu otimismo de cada dia. Não posso desistir daquilo que me move.



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