Tudo muda - Outra vez! E agora?
- Mar
- 16 de abr.
- 6 min de leitura
Entrar em um determinado lugar, aceitar uma determinada proposta é muitas vezes um desafio. No entanto, o desafio maior aparece quando você tem que SAIR desse mesmo lugar. A culpa e o medo de estar tomando a decisão errada é avassaladora, e o desafio nesse contexto pode ser definido como: a habilidade de sustentar as minhas decisões. Ou seja, como lidar com as consequências das minhas ações e decisões. Tomar a decisão pode até parecer fácil, mas como lidar com a decisão? Como sustentá-la?

Como sustentar as decisões?
Obviamente não tenho uma resposta definitiva para isso, mas há algumas coisas imprescindíveis para essa sustentação. Por exemplo, uma rede de apoio (pessoas que te apoiem), uma lista de motivos claros que reforcem aquela decisão, planos de contingência para lidar com as consequências, etc.
Uma rede de apoio é muito importante, porque com pessoas que apoiem suas decisões você se sente confortável para agir. Se o amor é garantido, o erro é possível e portanto, o desenvolvimento. Rede de apoio não é fraqueza, é um privilégio que, se você tem, deve aproveitar (vou fazer um post só sobre dar e receber também). Repetir quantas vezes forem necessárias os pensamentos, problemas e preocupações é extremamente satisfatório e também útil, simplesmente porque ao repetir (para diversas pessoas) a própria variação da fala contribui para a reflexão e o entender da própria decisão, além de processar as emoções e entrar em contato com os sentimentos ao redor do contexto e situação. Se você têm uma rede de apoio e pessoas com quem conversar, agradeça e perceba se você também é um apoio para essas pessoas.
Quanto à lista de motivos claros é preciso dizer que a ideia inicial foi minha mas um amigo me passou uma planilha específica para tomar decisões e a matriz é a seguinte:
uma coluna para os motivos para ficar
uma coluna para os motivos para sair
A cada motivo escrito, valorar de 0-5 o quanto isso impacta à você (tente não pensar em qual valor deveria ser, mas sim em como isso te afeta). Por exemplo, se um cafezinho depois do almoço tem mais impacto em você do que pessoas serem legais no seu emprego, então aceite realmente o que mais te impacta e não se julgue pelo que mais te impacta comparado ao que você imagina que deveria te impactar, ainda que se pareça estranho).
Depois, analisar todos os impactos e ver as pontuações finais das colunas e refletir sobre a decisão.
Um plano de contingência para lidar com as consequências inclui as possíveis respostas emocionais e também as consequências mais concretas da decisão, como impactos financeiros, na rotina ou coisas nesse sentido. Ter uma ideia do que pode acontecer ao tomar a decisão nos ajuda a visualizar o futuro e nos preparar para os desafios que essa decisão pode levar.
Uma coisa importante também a se pensar é pensar no porque e no para que da decisão (https://www.maresia.cat/post/por-quê-para-quê). E lembrar que não é uma questão de tomar decisões tendo certeza, mas de confiar em si mesmo e entender que erros ou acertos são aprendizados.
Mas ainda sim, você pode acreditar que é fraca. E aí? O que devemos refletir?
Mudança e Fraqueza
Ao decidir parar um processo, uma das reflexões que podem surgir é “sou fraca?”

A fraqueza não está em parar algo ou não, mas na interpretação do que é fraqueza e do que esse processo significa na sua (minha) vida. Isso porque decidir mudar requer coragem e a fraqueza, portanto, sai pelas portas do fundo quando decidimos algo difícil. Também há uma influência da romantização do sofrimento (vou fazer um post só sobre isso), na qual acreditamos que precisamos nos sacrificar (muitas vezes sem propósito) para algo valer a pena. Mas isso acaba criando um paradoxo, porque enquanto nos sacrificamos para viver algo melhor no futuro, deixamos de viver algo que valha a pena no presente. Obviamente, isso se desdobra em outras discussões, porque se arriscar e se sacrificar é importante em determinadas situações, mas talvez a sabedoria esteja justamente em discernir o que é importante e o quanto de sacrifício é necessário para atingir os objetivos e quais objetivos são importantes. Por isso a fraqueza não está na desistência, mas na falta de decisão, a fraqueza está em se manter em um lugar que você não vê propósito e que não é pra você e decidir não seguir a luzinha que existe em você ainda que seja pequena.

Sobre a culpa e o medo.
A culpa está intrinsecamente ligada com a ideia da fraqueza, e também daquilo que acreditamos como dívida. Não sentimos culpa daquilo que não acreditamos que deveríamos ter feito. Pelo menos não racionalmente. E o medo, por sua vez, pode estar relacionado com o medo do desconhecido, o medo das consequências, o medo de estar fazendo menos do que deveria.

Esses sentimentos se interrelacionam, cada um com sua dinâmica. A culpa traz a dívida e o medo traz o que interpretamos como a possível punição da dívida. A culpa nasce da sensação de falha e o medo, muitas vezes é o medo da falha ou do que a falha pode lhe causar. Como a imagem ao lado, o medo a culpa, presos um ao outro. Eles, de certa forma, formam um eixo que se retroalimenta, a culpa causando o medo e o medo reforçando a culpa. E portanto, cabe a nós questionarmos essa dívida e da onde vêm essas ideias de que somos “obrigados” a fazer algo. De onde?
Porque no fim, você pode sair. Pode ficar. Pode voltar atrás. Pode seguir em frente. Mas o que define seu caminho não é a ausência de medo ou culpa, mas a capacidade de continuar caminhando com eles. Integrando-os, vivendo-os, sentindo-os. Principalmente porque, no fim das contas, isso é viver. E como a música pede a continuação, é aprender.
Afirmações.
Fiz o que pude fazer, da melhor forma que pude fazer, dei meu melhor e me sacrifiquei pelo tanto de tempo que pude.
Não existe o melhor em absoluto.
Não tenho responsabilidade sobre o que farão em minha ausência.
Minha saúde é mais importante do que qualquer coisa que eu pudesse aprender.
Minhas horas de sono são importantes.
Me comuniquei com assertividade e clareza.
Não posso fazer mais do que aquilo que consigo.
Posso priorizar outros projetos também.
Mereço descansar.
Desistir não é fraqueza.
Mini carta aberta à mim mesma para me ajudar a sustentar minhas decisões.

Você deu o seu melhor no que poderia fazer e desde o começo se sacrificou para manter o lugar estável e bom na sua presença, tudo bem se priorizar porque muitos em seu lugar fariam a mesma coisa. Não há um jogo em que você TEM que ganhar para ser considerada forte ou merecedora, seu crescimento está justamente em sustentar essa decisão. Você não precisa de validação externa, porque tem todos os motivos válidos para essa decisão. Você refletiu, você percebeu que essa é a melhor opção, você entende que esse é o melhor caminho para que você consiga continuar a caminhar. Não se preocupe, o alívio virá e você poderá ser feliz novamente. E descansada. Não é egoísmo se priorizar e descansar. Você dirá “Eu importo. Minha paz importa. Minha vida é minha.” e agirá assim, porque realmente entende que você é importante, que sua paz é importante e que a vida, é de fato, importante. Você merece descansar. Merece recomeçar. Merece ser feliz de um jeito que não precise justificativas. (lembra do post de justificativa!!)
Essa decisão que hoje parece tão pesada será, um dia, apenas o marco zero de quando você finalmente escolheu voltar para casa, seguir seu coração que é onde sempre esteve seu verdadeiro lugar, igual a sua caneca :)
Alívio e Renascimento
Após um período de mudança em que voltamos a fazer o que fazíamos antes podemos ter a impressão de que somos pessoas completamente novas depois do processo ou pensar que voltamos a estaca 0. Nenhuma dessas opções está correta de fato. No meu caso especificamente, que parei com algo, não posso dizer que sou a mesma pessoa que comecei, mas sei que ao voltar a rotina de antes, certos padrões voltarão a se repetir, cabendo a mim mesma refletir e impedir que padrões nocivos e prejudiciais danem a minha evolução. Preciso impedir e prevenir qualquer padrão de comportamento que me levou a fazer coisas ruins mas também preciso aprender a fazer as coisas do meu jeito, reestabelecendo a ordem de maneira a resgatar aspectos do passado e do futuro para construir a pessoa que sou e serei. Então basicamente, aceitar a ambivalência de voltar à rotina com as novas coisas que aprendi e assim me tornar uma pessoa diferente, que metabolizou as diferenças e integrou em algo terceiro.

Isso é o renascimento, porque renascemos em algo novo com aspectos do passado. A história é implacável, nada se apaga nas linhas do tempo, ainda que a memória não alcance, ainda que ninguém mais saiba ou reconheça, todos os acontecimentos permanecem registrados na linha do tempo influenciando tudo que ali veio depois. (Vou fazer um post só sobre isso).
O alívio é a descompressão de fato do que havia tensionado, o alívio é o estouro do balão.
E assim, aproveitar com cuidado, a liberdade. Lembrando das responsabilidades e novas possibilidades de crescimento que com ela vem.
Até a próxima mudança :)))))
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