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A lógica e os chatos

  • Foto do escritor: Mar
    Mar
  • 10 de ago.
  • 6 min de leitura

Desabafo sobre conversar com caras chatos e lógicos.


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Antes de eu situar o meu desabafo aqui, preciso fazer alguns adendos sobre o próprio conceito de lógica.

Existem vários tipos de lógica e isso é fato, a lógica - como uma ferramenta estruturante do pensar - está presente na linguística, na matemática, na filosofia, nas ciências sociais, políticas e até mesmo na economia. Então minha ideia aqui não é discorrer sobre o conceito de lógica em si, mas pensar na "lógica" como um argumento que alguns rapazes com os quais converso/conversei usam para deslegitimar alguma coisa que eu falo, sugiro ou faço como se fossem menos lógicas apenas por diferir do caminho de pensamento usado por eles.

E como todo desabafo, cabe aqui dizer que eu ODEIO isso e isso me IRRITA profundamente, já que é uma grande perda de tempo interagir com pessoas que sempre duvidam da minha maneira de agir ou pensar porque além de eu já ter um esforço para fazer, mostrar ou falar algo, ainda tenho que me provar "lógica" o suficiente para que os conteúdos das minhas ações ou do meu discurso sejam compreendidos e levados em consideração.

Eu não sei se é porque sou mulher, porque sou relativamente nova ou porque tenho uma cadência vocal menos incisiva, mas o fato é que algo que poderia ser explicado em 3-4 minutos levam quase o dobro, simplesmente porque não há legitimação no que eu falo por parte desses "lógicos e chatos" dos quais eu me refiro aqui. (Com certeza o fato de que sou mulher realmente tem um impacto nisso tudo).

E na verdade, esse argumento da lógica cai por terra ao pensar no que eu disse no primeiro parágrafo, com as diferentes possibilidades da lógica. Mas ainda assim a palavra lógica é utilizada sem nenhuma reflexão sobre seu significado, sendo somente um mecanismo de defesa para que esses desqueridos continuem a pensar da maneira que pensam ou que simplesmente prefiram minimizar o que eu falo sem refletir de fato o que eu digo.

Eu poderia dar muitíssimos exemplos, desde as coisas mais básicas até as coisas mais complexas, mas em quase todas as ocasiões em que estou tendo uma conversa séria com algum desses famosos "lógicos e chatos" tem uma resistência quase palpável às coisas que eu digo. E quando digo que vai das coisas mais básicas, realmente falo sério. Por exemplo, estava jogando um jogo de adivinhar palavras com uma pessoa e ele decidiu jogar de um jeito X. Eu, por outro lado, decidi jogar de um jeito Y. No fim das contas ele acabou pesquisando a resposta da palavra na internet e me contou antes que eu pudesse finalizar o meu jogo do meu jeito. Depois que percebeu que eu estava jogando de uma maneira diferente da dele, começou a falar que o jeito X era o certo e lógico, enquanto que o jeito Y não era lógico. Vou explicar os jeitos agora e deixo a reflexão no ar.

O nome do jogo é WORDLE (ou em português é o TERMO).

Jeito X - ao encontrar uma letra que correspondesse à palavra e à posição certa, ele mantinha a letra no lugar correto e buscava outras palavras que encaixasse no quadro.

Jeito Y - no meu caso, eu decidi escrever palavras com letras diferentes e eliminar as letras que não eram encontradas na palavra que eu estava tentando adivinhar.

Para mim, ambos os casos eram maneiras lógicas e válidas de jogar o jogo, enquanto que para ele, o meu jeito era ilógico, mas no fim das contas ele precisou pesquisar na internet e ainda tirou a minha oportunidade de tentar do meu jeito.

E isso acontece muitas vezes! Mas na verdade, se fôssemos dar um voto de confiança ao que ele estava falando e que meu jeito realmente era menos lógico que o dele, o que ele ganharia tentando falar mal desse meu jeito se com o jeito dele ele precisou pesquisar na internet a palavra?

Me parece que seja uma frustração ao mesmo tempo em que é preciso se provar, mas nunca se provar no sentido de ser tanto quanto e sim no sentido de ser melhor que (eu), enquanto que no início, eu sugeri jogarmos juntos sem competição.

Não ser levada à sério em alguns casos não é uma coisa nova para mim, na verdade. Mas tem uma particularidade nova: minha autoconfiança aumentou proporcionalmente à minha irritação ao não ser levada à sério por coisas bobas. O que de certa forma, contribuiu para que eu fosse cada vez mais levada à sério (por pessoas da minha família ou estranhos) e revela ainda mais o contraste quando alguém, como os lógicos-chatos, não me levam à sério. (vou fazer um post ainda sobre como estou lidando com pessoas me levando mais a sério, ultimamente).

Eu, na verdade, amo discutir e conversar, debater, sobre os mais diversos assuntos e sinto que sou respeitosa diante de pensamentos diversos (com exceção de alguns mais extremos e portanto inegociáveis para mim). Inclusive tenho amigos que têm perspectivas diferentes de mim em vários assuntos, mas que focamos nas nossas semelhanças e respeitamos nos nas nossas diferenças. Então o problema pra mim não é diferença de pensamento e sim a deslegitimação da minha lógica como forma de pensar, e quando digo "minha lógica" estou usando a palavra lógica de forma tão trivial quanto os lógicos-chatos .

Além de tudo, os lógicos-chatos me parecem um pouco frustrados com sua própria posição, não tenho argumentos o suficiente para elaborar isso e nem me cabe fazer essa discussão também, mas com certeza não são felizes, não há felicidade que sobreviva em um coração cheio de "lógica" e chatisse, isso porque a felicidade requer uma dose de loucura e descompressão.

Talvez eles sejam tão reprimidos que precisam se encouraçar por trás de uma máscara de lógica para não admitir seu próprio desalento diante dos mistérios da vida. Mas também não vou colocá-los como vítimas de um sistema, isso todos nós somos. Hoje só quero expressar o quanto tudo isso me irrita e me faz perder tempo porque transforma discussões (e em última instância qualquer interação) em uma disputa de quem está certo e quem está errado, quando para mim deveríamos nos livrar dessa culpa e viver de um jeito mais leve.

E também me sinto desrespeitada quando isso acontece, porque sei que sou bem articulada para falar, sei que tenho bons argumentos e sei que além de ter "lógica" e conhecer os diversos tipos de lógica, ainda entendo que mais do que saber a tabela verdade ou silogismos é preciso tratar os outros com respeito e as vezes silenciar-se em sua sabedoria ou ignorância. Porque uma pessoa que está segura de seus pensamentos não precisa ficar "militando" lógica por aí.

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Embora que eu ainda esteja aprendendo a diferenciar quando é importante me posicionar e dizer "não sou menos lógica que você por pensar diferente" ou "isso não é um fato objetivo, é apenas uma opinião", e quando é melhor deixar pra lá. Porque ao mesmo tempo que falar e me posicionar é um ato de resistência (microrevoluções diárias?), também é extremamente cansativo e pode dar a impressão de que estou me sentindo afetada pela projeção de insegurança desses "lógicos-chatos" e não estou, só estou me defendendo do que acontece com certa frequência.

Porque se eu fosse realmente discutir academicamente sobre lógica, então teríamos que conversar sobre a origem da lógica, o silogismo, a logica formal, o positivismo, a lógica materialista, dialética. E tudo isso eu poderia fazer kkkk, mas a impressão que dá é que eles simplesmentes estão tentando dizer "o meu jeito é o jeito certo e é o único jeito certo". Confundem razão com lógica e o pior de tudo na verdade é que assim, nunca se questionam sobre aquilo que pensam, porque pensam que já são pensadores livres, mas não escolhem nem a estrutura de pensar e nem mesmo seu conteúdo. Seria isso medo de vulnerabilidade? Sinceramente, sei lá! Pouco me importa (me importa um pouco, claro) o que de fato leva uma pessoa a ser assim. Porque os lógicos-chatos se acham especiais, e ainda que os são (em algum contexto e para alguém), não são de fato únicos ou originais, e não digo isso de forma negativa. Mas é uma visão meio infantilizada e bastante capturada e incentivada que sejamos sempre pensadores livres e originais, quando nos é dito exatamente o que é um pensamento livre e original. Talvez seria mais honesto admitir a inescapável construção coletiva das nossas próprias consciências e verificar que, na prática, não existe uma lógica produzida individualmente que seja objetivamente melhor do que outra. Todas elas têm suas limitações e servem para determinados interesses.

É um pouco triste, mas os lógicos-chatos não poderão jogar TERMO sem se sentirem em um tribunal questionando sua intelectualidade e sem sentirem a necessidade de pesquisar a resposta, antes que seja tarde demais para ganhar (não de mim, já que eu sou só a representação de inimigos muito maiores: o autoengano e a repressão). No fim, a lógica não encapsula a essência da vida, que é muito maior do que qualquer operador lógico e muito mais interessante do que tabular jeitos certos de jogar TERMO, é simplesmente se divertir no processo, antes que seja tarde e tudo perca a graça.


Acho que por hoje é só! Meu desabafo foi dado. Busquem a lógica, só não deixem que ela aprisione sua maneira de pensar. Beijinhos e até a próxima :))!





 
 
 

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