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Academia e Imagética - Parte I

  • Foto do escritor: Mar
    Mar
  • 28 de mar.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 29 de mar.

Se eu escrevesse esse texto em inglês, o título seria Gymagery.

Primeiro por que imagética? Pela imagem idealista que o ambiente academia tem sobre os sujeitos, já que extrapola a imagem concreta do ambiente e do sujeito, mas seu significado social, pessoal, experimental, etc.

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Recentemente fui à academia pela primeira vez em muito tempo, na verdade foi a primeira vez em uma academia (sem ser da faculdade) propriamente dita. E na verdade há sempre muitas coisas para pensar quando se vai em um lugar novo, como “quem são as pessoas ali, quais atividades vou fazer, no que preciso prestar atenção? Etc. Mas além dessas perguntas mais gerais que servem para qualquer lugar, há algumas coisas muito específicas do ambiente de academia que impactam diretamente meu EU ao frequentar tal lugar. Vamos lá.

A primeira coisa é certamente positiva, o ambiente da academia é bastante motivador para a realização dos exercícios, possui ferramentas, professores, maquinários e uma infraestrutura criada justamente para condicionar os alunos a realmente se exercitarem. O humor melhora, a água é gelada, não é muito lotada. Resumindo: a estrutura é boa.

A segunda coisa a se pensar é justamente o IDEAL academia e exercício e todas as nuances que são abertas a partir daí e com isso quero trazer a segunda parte do texto: Imagética, mais precisamente imagem, ou ainda, autoimagem.

Academia é um ambiente que além de te condicionar a exercitar, também é um lugar que te condiciona a se OLHAR, e não só se olhar, mas observar-se em meio a outros que também se exercitam. Com isso, temos outras influências como a questão da pressão estética, do como eu deveria ser, do que é esperado para ser, etc.

O que é engraçado desses cinco parágrafos anteriores é meu eufemismo e a dificuldade (ou evitação?) em chegar ao ponto principal do texto: a academia é terrível se você tem medo de se olhar. A academia expõe as proporções, desproporções, vontades e contrastes do seu corpo. É um confronto direto com o padrão ideal e o que se vê no espelho, somando-se ao conflito com o real motivo de estar ali: a saúde.

É preciso muito cuidado para não ser capturada pelas ideias tortas do “corpo perfeito” e das ideias mirabolantes do “que fazer” ou do que “priorizar” quando se exercita, porque um determinado corpo não está relacionado apenas com à saúde, mas com um determinado valor social que este corpo tem perante outros. Ter um determinado corpo é ter um determinado valor porque o corpo é valorado socialmente de acordo com critérios também determinados. Então há um corpo genérico ideal (ou vários tipos de corpos genéricos ideais) e o ser humano concreto que tenta se encaixar nesses diversos tipos de corpos, geralmente para ser enfim valorizado positivamente.

Ou seja, de certa forma, o corpo é um critério para ser querido (em diversas formas sociais). Se o corpo é um fator, invariavelmente, para ser querido. O que resta para mim é a angústia de não necessariamente encaixar nos padrões ideais dos corpos genéricos estabelecidos.

Ao mesmo tempo que a angústia é inevitável, na metabolização e no processamento da angústia há um afloramento da rebeldia da necessidade de se encaixar nesses padrões e portanto um refluxo, nas próprias crenças em relação à si. Todas essas palavras prolixas para dizer que, ao reconhecer a angústia, abre-se a possibilidade para lidar com ela e com como ela se relaciona com seu próprio valor.

É preciso fazer uma separação de gênero aqui, porque essas angústias se refletem de forma diferente na sociedade para homens e mulheres, apesar de afetar a ambos, só posso falar da minha experiência como mulher.

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A academia é cruel para mulheres, e não digo a academia em si, mas o que a academia significa e pode significar e o que o corpo significa e pode significar e a pressão em relação à isso. Aqui podemos conversar sobre significados e significantes propriamente ditos, mas isso é para outro post. O que destaco aqui é a ambivalência presente nesses espaços: ao mesmo tempo em que é uma oportunidade, pode se tornar um vício ou um flagelo, que corrói ou pressiona sua autoimagem em detrimento da própria aceitação para a busca por um corpo genérico ideal, vendido como belo e querido. Quais são os limites para a busca? O que é autocuidado, desleixo, exagero ou transtorno? (perguntas escrever para depois?)

Essa é uma reflexão importante para mim porque nesse capítulo da minha vida sei que lidarei bastante com essas questões de imagem e da minha visão sobre mim mesma. Hoje não quero falar de experiências específicas e pessoais que me levaram a escrever esse post, mas sim trazer a tona a angústia e talvez em posts futuros a elaboração e sua subversão.

Ainda vou fazer um post específico sobre o fato de ir a academia de maneira mais positiva e "funcional", tipo, como fazer, o que eu faço, rotinas, etc. Esse post foi só uma reflexão pessoal mesmo sobre as armadilhas presentes num espaço que teoricamente é benéfico para todos.


No mais, minha experiência com a academia foi ótima, a professora foi incrível, me ajudou, me mostrou como fazer os exercícios e eu pude por alguns minutos, pensar somente em inspirar e expirar.

 
 
 

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