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INTEGRAÇÃO I - POSTAR?

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    Mar
  • há 3 dias
  • 8 min de leitura

Esse é o primeiro post da série INTEGRAÇÃO, então vou explicar o que é essa série de fato e até o final do post eu decido se vai ter alguma série de fato ou não. (também falei sobre terapia e chatbots)

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O QUE É A SÉRIE INTEGRAÇÃO?

O último post > https://www.maresia.cat/post/integra%C3%A7%C3%A3o-o-refr%C3%A3o-da-dan%C3%A7a fala sobre o capítulo de INTEGRAÇÃO, um capítulo mais longo no qual eu terei que integrar as minhas contradições e refletir sobre quem eu realmente sou pensando sobre minhas contradições, e eu tenho MUITAS.

A primeira delas, no caso, é decidir sobre a existência desse blog e se eu deveria realmente postar minhas experiências pessoais e o quanto isso influencia de fato no próprio processo de escrever, será que enquanto escrevo isso, sabendo que será postado, terei alguns impedimentos sobre minhas reflexões? A resposta inicial é que sim, se eu souber que será postado, essa sabedoria estará intrincada no processo de escrever. A questão é: qual o impacto que isso causa à minha integração?

A integração é a parte mais importante desse novo capítulo, é entrar em contato com algumas partes de mim que me irritam, é gostar de mim, é estar presente em mim mesma e no mundo. Como integrar então aquilo que é pessoal e aquilo que pode ser postado? Quais os parâmetros para que eu consiga, ao mesmo tempo, superar meu medo de exposição e concomitantemente não cair em seu oposto e postar exatamente tudo que acontece comigo? É um perigo, claro, e até onde eu posso ir?

É essa a reflexão para eu integrar hoje.

Por exemplo, gostaria de fazer algumas exposições semanais de como está indo minha vida, mas a pergunta é: seria isso um reflexo de que não tenho ninguém para me ouvir de fato então coloco na vitrine com a plateia invisível e isso já é suficiente para que eu me sinta ouvida? Essa é uma reflexão interessante, porque não é de todo verdadeira mas também não é de todo enganosa. Obviamente tenho mais do que suficiente até, pessoas para me ouvir, mas quanto eu conto as coisas para essas pessoas específicas, não estou apenas contando algo, estou contando algo para um receptor específico com características específicas, então antes mesmo de eu contar algo, automaticamente e até inconscientemente, tem o filtro da MINHA visão daquele receptor e de como eu interpreto que a mensagem será recebida. Porém! Quando algo é escrito para o além, como nesse blog, onde não tem uma pessoa específica na qual estou contando determinadas coisas e reflexões, a mensagem fica menos relacionada ao receptor dela, e mais relacionada com meus próprios filtros pessoais. É um pouco o que acontece em um processo terapêutico por exemplo, a própria essência de contar algo para um psicólogo, passa por um significado de que aquela pessoa sabe o que fazer com aquela informação, ao mesmo tempo em que ela (e nisso acho que a psicanálise acertou) passa também por uma experienciação de outras projeções que são transferidas à figura do psicólogo. O que não acontece por exemplo, em uma relação de terapia com chatbots (a figura do chatbot tem uma relação mais parecida com postar aqui por exemplo), mas com o agravante do reflexo da sua própria resposta. Num processo terapêutico, o que está se relacionando são duas histórias, a do terapeuta e a do paciente, ainda que em foco esteja o paciente. Isso se reflete também quando pensamos na questão de gênero do paciente em relação a um psicologo, se um paciente homem, tem um psicologo homem, como é a relação? E se fosse uma psicóloga? São relações que perpassam na própria sociedade e que não conseguimos escapar delas na realidade, apesar de que ao produzir um conhecimento científico muitas vezes esquecemos esses determinantes à priori. Já o chatbot fica isento dessa relação e a pessoa acaba recebendo apenas um reflexo de suas próprias ideias, ou se for um chatbot melhorzinho, a pessoa pode até receber uma série de técnicas despessoalizadas e sem respaldo para aquela situação específica, enquanto que em um setting terapêutico (independente da abordagem), a verdadeira técnica é a relação terapeuta X paciente. Obviamente com o passar do tempo, os chatbots podem evoluir e partir para uma postura mais parecida com o sentido da terapia, mas ainda assim, seria importante pensar e criticar os objetivos de uma terapia. Se o objetivo é o autoconhecimento, muitas vezes um chatbot pode fazer uma lista de perguntas que ajudará a pessoa a se conhecer melhor, ok. Se o objetivo é cuidar do sofrimento, o chatbot pode passar uma série de exercícios de respiração e meditação para acalmar a pessoa,ok. Se o problema é Habilidades Sociais, o chatbot pode passar uma série de protocolos para ajudar a pessoa a se relacionar melhor com outras pessoas, ok. Mas onde está o problema aí? O foco da terapia não é apenas (ou não deveria ser apenas) na cura do sofrimento psíquico imediato, na aquisição de novas Habilidades Sociais, ou no Autoconhecimento, o foco da terapia, para além do desenvolvimento pleno possível do paciente é: o próprio paciente em relação com o terapeuta e sua queixa. O chatbot, ao se colocar como um espelho vazio, perde a capacidade de entender as nuances relacionais que acontece entre dois humanos. Se um dia, os chatbots ficarem tão potentes que consigam focar de fato, não na queixa, mas na pessoa que traz a queixa, ainda assim não estariam em situação de igualdade com um psicólogo. Porque a IA não carrega em si experiências e por isso não ocupam a consciência do paciente. Quando uma pessoa vai à um psicólogo, não está se relacionando apenas com a sua queixa, mas com a pessoa que a escuta e ainda após sair do setting, a figura do psicólogo permanece, enquanto que com um chatbot, a pessoa se relaciona apenas com um espelho psicologizado da sua queixa que não é suficiente para criar uma figura na consciência, além do que o próprio processo de conseguir falar com algum outro ser humano sobre sua queixa já é um processo por si só, e isso é suprimido numa relação (parasocial?) com o chatbot, simplesmente porque ele não é pessoalizado, então a questão do receptor da mensagem se parece mais com falar sozinho, mas sem o silêncio. Que inclusive, é uma coisa essencial na terapia. Nem sempre haverá de ter fala, o processo terapêutico também ocorre na ausência de fala. A própria configuração de chatbots não permite uma fala sem resposta, o que também não é terapêutico. Na verdade, existem um milhão de outros fatores para se pensar, como a vulnerabilidade, o conforto humano, a gestão de crises. etc. E além disso, se um dia, formos atendidos por robôs, que falam como seres humanos, agem como seres humanos, andam como seres humanos, precisaremos então discutir sobre os direitos civis desses robôs.


RETORNO

Mas na verdade, esse nem é o assunto de hoje. O principal aqui é a discussão: o quanto devo postar sobre mim?

Em uma definição mais prática, eu poderia postar tudo aquilo que eu sentisse confortável em compartilhar. Mas essa ideia mais prática não facilita em nada a integração, pois assim eu teria que refletir sobre o que me deixa confortável em compartilhar e ainda mais, aberto à esse público invisível que é ao mesmo tempo ninguém e todo mundo.

Vamos retornar às perguntas iniciais:

  1. Será que enquanto escrevo isso, sabendo que será postado, terei alguns impedimentos sobre minhas reflexões?

  2. Qual o impacto que isso causa à minha integração?

  3. Como integrar então aquilo que é pessoal e aquilo que pode ser postado?

  4. Até onde eu posso ir?


A primeira resposta é claramente sim, e já até foi respondida por mim anteriormente, se sei que será postado, então como lidar com isso? Acho que a parte mais importante é lembrar dos porquês (o primeiro post do blog), e lembrar que estou lidando com meu medo de exposição através da própria exposição, como na raiz da palavra poesia, poeisis, que significa construção de uma sabedoria através do processo, mais ou menos. Então no processo de escrever me exponho às escritas e aos pensamentos e posso conseguir isso. Sabe, as vezes tenho medo de estar enlouquecendo, por tudo que escrevo, mas todo mundo é um pouco assim né? O que é normal no fim das contas?

Outra coisa que me intriga quando escrevo é o fluxo de consciência, porque os assuntos só vêm à minha cabeça e muitas vezes ficam desconexos. As vezes interrompo um parágrafo no meio e depois tenho que continuar mas não me lembro minha ideia inicial, então algumas pistas ficam indecifráveis. Isso tem a ver com minha própria maneira/hábito de escrever, já que escrevo conforme as demandas diminuem. Assim, se estou nesse ciclo de "flow", posso simplesmente falar algo e depois me arrepender ou ficar pensando demais. O que também é interessante. Um exemplo disso é o post Justifique Sua Resposta:

que fala um pouco sobre minha sensação de culpa depois de falar de alguns traumas infantis em um post anterior. E acho que isso só foi revelado porque eu postei, então, nesse sentido, é importante a postagem porque adiciona a questão do olhar do outro (genérico) que simboliza algum olhar projetivo de mim para mim. As únicsa coisas que devo tomar cuidado é não postar para impressionar alguém, não postar para ter uma imagem específica, uma reputação, digamos assim; me revelar demais; ou postar com a postagem como FIM. Na verdade, a postagem é o meio pelo qual. E assim as coisas ficam mais fáceis. Ok. vamos refletir um pouco mais.


O que significaria para minha identidade postar? Quem quero proteger?

Para a segunda pergunta, a resposta é óbvia, quero me proteger. E de quem? Quando começo a pensar penso na minha família, mas eles não são pessoas das quais eu preciso ser protegida, a questão é que eu também quero protegê-los das minhas contradições, então não quero apenas me proteger ou proteger eles, mas quero proteger o meu EU em relação á eles e ELES em relação a mim, e assim, protejo, claro, nós. E isso é interessante, porque eles nem sabem disso, um dia vou contar desse blog, duvido que eles leiam tanto, mas também gosto do fato de um dia eu saber que poderei contar. Um dia vai sair, assim, normal. E o que isso significaria para minha identidade? Acho que tenho uma identidade meio misteriosa, não no sentido de fechada, mas no sentido de translúcida, com em Shrek, uma cebola tem camadas. Assim, uma pessoa vai me conhecendo aos poucos, ao mesmo tempo em que eu mesma vou mudando e permanecendo. Então é como se nunca de fato me conhecesse, e sempre tivesse algo a mais para conhecer. Enquanto digito isso até solto uma risadinha do tipo "ai ai, ela se acha", e acho que tem um pouco a ver com isso também. Tenho um pouco de medo de parecer um pouco "demais da conta", por fazer um milhão de coisas, então as vezes preciso me controlar um pouco para não falar muito sobre mim mesma, e ainda tem pessoas que são minhas amigas por anos e simplesmente não sabem quase nada de mim, como poderia eu contar tudo não é? Acho que isso se reflete também na questão de relacionamento. Enfim, tudo isso também é papo pra outro dia, porque sinto que isso também está mudando, mas é algo que nessa questão da integração vou resolver.


Ok, próxima pergunta: Qual o impacto que isso causa à minha integração?

Acho que o impacto ainda é desconhecido, mas essa pergunta revela algo sobre o que devo me atentar: se eu perceber que postar sobre a Integração, me causa menos integração e estou atrapalhando o processo, então vou parar. Acho que é isso, enquanto eu estiver conseguindo, ao mesmo tempo integrar a questão de me expor, vulnerabilidade e tals COM a questão do capítulo, então perfeito, vou ir postando. O que leva à responder a terceira pergunta e logo a quarta.

Como integrar então aquilo que é pessoal e aquilo que pode ser postado? Se algo for muito pessoal, como por exemplo questões de intimidade física, não vou postar, e se mesmo assim esse algo aleatório precisar ser integrado, então escreverei de forma particular. O importante é que ao integrar, ainda integro a questão do meu medo de exposição. (sim, estou repetitiva, mas é porque estou lidando com isso kkk)


Até onde eu posso ir? De forma metafórica: posso ir até onde meus pés conseguirem caminhar sem medo de não ter chão.


E hoje, é até aqui! Até a próxima.

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