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As mazelas de uma boa memória

  • Foto do escritor: Mar
    Mar
  • 30 de out. de 2024
  • 4 min de leitura




Tenho uma memória boa e isso não é necessariamente bom. Segue os principais problemas por ter uma memória boa.


Problema número 1 - A frustração em ter que se repetir.

Converso com uma pessoa e digo certas coisas, depois de um certo tempo a pessoa me pergunta exatamente sobre aquilo que eu já tinha lhe falado antes. Fica a dúvida: "ela não me escutou ou só esqueceu do que eu falei?". Na verdade me sinto muito lisonjeada quando alguém se lembra de algo que eu falei, justamente porque raramente isso acontece.


Problema número 2 - A sensação de estranheza ao se lembrar do que os outros me falaram.

Por exemplo, uma pessoa me diz que gosta de X coisa e da próxima vez que eu ver essa X coisa, vou me lembrar que essa pessoa gosta disso. Quando for aniversário da pessoa, pensarei "poderia dar uma camiseta com estampa de X", mas isso tudo é com uma pessoa que por questões de proximidade eu jamais daria uma camiseta ou qualquer presente. Em inglês temos a palavra Awkwardness e Cringeness, acho que essas duas palavras ilustram um pouco o sentimento.


Problema número 3 - Dificuldade em perdoar.

Poucas vezes perdoei de fato uma pessoa que me machucou profundamente. Imagino que o perdão possa acontecer de algumas maneiras, mas que o esquecimento influencia bastante em como isso te afeta. Para mim, a memória de algumas pessoas ainda desperta sensações tão ruins quanto àquelas que senti nas situações que me causaram o mal.


Problema número 4 - "Eu já vi isso"

Poucas vezes me sinto realmente impressionada com algo que alguém me mostra, simplesmente porque já vi antes. Mas ao mesmo tempo acho rude dizer que já vi, que conheço, que sei do que a pessoa está falando, então só comento sobre o que a pessoa me mostrou, mas dificilmente é algo inovador (e também não tem que ser).


Problema número 5 - "Frescura"

Muitas pessoas gostam da ideia de ter uma memória "boa", procuram técnicas para lembrar melhor das coisas e conseguem desenvolver uma habilidade de lembrar que é fundamental no mercado de trabalho. Porém, minha memória sendo boa é relacionada à coisas que aprendo, mas não se limita só à aprendizagem. Por isso lembrar de muitas coisas pode deixar a minha vida um pouco "mecanizada", já que tira um pouco a surpresa das coisas.


Esses foram só alguns exemplos do porque ter uma boa memória pode não ser tão bom quanto as pessoas dizem, ainda caberia aqui dizer a dificuldade de aprendizagem. Por exemplo, ao aprender a dirigir (que é justamente o que eu estou fazendo), não tenho problemas de memória no sentido de não saber o que fazer, pra mim é que eu não tenho solidificado os movimentos e coordenações para alinhar minha memória com o movimento dos braços e pés. E aí, acabo me irritando com a insistência do professor em me corrigir em algo que eu sabia o que fazer e em como fazer, mas por falta de TREINO, não consegui executar.


Mas a pergunta que fica é...


Que parte da minha história de vida contribuiu para que eu tivesse que desenvolver uma boa memória? Deve haver um componente genético que tenha facilitado isso, mas acredito que a resposta para essa pergunta esteja em alguns lugares da minha infância (que obviamente lembro).


Vamos imaginar a seguinte situação:

  • Fulano e Beltrano estão conversando sobre algo e Beltrano diz: "Eu às vezes acordo as 8h15 ".

  • Após essa conversa, Fulano está agora conversando com Ciclano e de repente, cita a conversa com Beltrano: "o Beltrano acorda 8h15 todos os dias".


Se eu observasse essa situação quando criança, isso tiraria meu sono durante dias, porque na verdade, Beltrano acorda as 8h15 apenas AS VEZES, mas na interação isso foi transformado em TODOS OS DIAS e pra mim era inadmissível que uma pessoa passasse uma informação errada de outra pessoa. Acho que isso afetou algumas outras coisas pra mim também que devo explorar depois.

Então para mim, era importante que quando uma pessoa dissesse X para mim e eu por algum motivo fosse repetir essa conversa depois em algum momento, que eu repetisse exatamente o X que me foi dito.

Foi mais ou menos nessa época que aprendi na prática o que o ditado "quem conta um conto aumenta um ponto" quer realmente dizer. Mas será que aumentamos um ponto porque não ouvimos o que a pessoa nos disse, porque queremos causar um efeito específico, ou porque simplesmente não lembramos o que foi dito?


Há outras situações, na verdade. Mas surpreendentemente não me lembro conscientemente delas. É algo interessante, parece que quando eu vou chegar em alguma memória que revelaria algo bastante importante para mim, sou impedida de processá-la. O que será que minhas memórias escondem de forma mais profunda?


E na verdade, minha memória funciona baseada em algumas emoções específicas que ainda não compreendi qual os padrões que me fazem lembrar ou esquecer de algo. Porque não é como se eu não esquecesse de algo, mas é como se eu só lembrasse coisas específicas e de certa forma, inúteis. Nesse sentido, seria bom se eu começasse a investigar o que eu lembro e o que eu não lembro e o que poderia estar por trás da escolha inconsciente de lembrar de certas coisas ou não.


Então não creio que a boa memória seja causada por uma questão de curiosidade, de alegria ou de empolgação, mas de uma fonte de ansiedade e por isso me pergunto:

É possível esquecer conscientemente de algo? E se sim, como?

Com certeza será uma das próximas coisas que tenho que explorar.

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