E se der tudo certo?
- Mar
- 19 de set.
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Há um tempo atrás eu estive muito interessada em assuntos de expansão da consciência e em um desses dias, eu vi um video que falava sobre autosabotagem que mudou a minha vida. E o que mudou foi relacionado ao que eu pensava naquela época, mas escrevo isso hoje, porque hoje mesmo pensei sobre isso e isso me fez repensar a minha vida de novo, mas dessa vez com quem sou hoje. Vou explicar as duas histórias.
Primeiramente a anterior, sobre o vídeo e o impacto que ele teve na minha vida do passado e depois como uma frase daquele vídeo retornou e como entendi hoje.
No primeiro dia que vi esse vídeo, eu devia ter uns 16 ou 17 anos, essa época da minha vida é muito vívida, apesar de eu não lembrar a idade exatamente, mas foi entre os 14-18, e são vividos porque foram momentos muito importantes na formação de quem eu sou hoje, com muitos altos e baixos. Baixos nos quais imaginei que jamais sairia de lá e altos que me mostraram mais da vida do que eu poderia imaginar, ainda que eu não tenha tanta experiência de fato na vida, principalmente no que diz respeito à experiencias sociais, sinto que tenho refletido tanto que parte de mim sente como se já tivesse vivido algumas vidas dentro desta. O vídeo em si falava sobre como nossas crenças sobre o mundo nos sabotam e nos fazem agir de determinadas maneiras que não gostaríamos, no fim a vida é sobre explorar essas crenças e criar uma visão de mundo integrada. Mas as vezes a vida pode ser também sobre como você arruma seu cabelo ou qual sua comida favorita, ou sobre nada disso e sim sobre sua conta bancária e a vida financeira. Não importa, o que importa é que a vida é alguma para alguém e para mim não era nada e ao mesmo tempo era tudo. Nesse video, sobre autosabotagem, uma das premissas era de que muitas vezes não temos medo de que as coisas deem errado, mas que deem certo. Isso parece um pouco confuso imaginar que temos medo das coisas darem certo, mas pra mim aquilo caiu como uma luva com tudo que eu estava vivendo e minha "sindrome do impostor", eu tinha medo de ir bem nas provas e chamar atenção, tinha medo de cozinhar bem e chamar atenção, tinha medo de fazer tantas coisas que deixei de fazê-las por medo de fazê-las bem e chamar atenção. Isso é um clássico. Mas agora sinto que minha vida melhorou no sentido de que os desafios são realmente desafiadores e eu sofro um pouco para aprendê-los e isso é bom. Mas o impacto daquele vídeo foi para me dizer que as vezes eu tinha não só medo de dar errado, mas de dar certo também porque eu tinha medo do que as pessoas iriam pensar de mim se eu fosse boa, então ser ruim poderia me fazer ser como eles, o que também mostrava que eu via as pessoas com uma certa "subestimação" do potencial delas, como se elas fossem mais burras do que eu era e que por isso eu deveria me emburrecer também para não deixá-las tristes. Então obviamente eu também não dava meu máximo potencial nas coisas porque eu não imaginava que eu conseguiria sustentar ser boa. Então se as coisas dessem errado pra mim, eu poderia simplesmente usar alguma desculpa como se eu tivesse tido um problema ou errado aqui e ali, esqueci alguma informação, e para mim mesma isso não mexia com a minha confiança porque se eu não tinha me esforçado o suficiente, a sabotagem estava ali em forma de "eu nem tentei mesmo", caso eu não conseguisse algo. Mas eu mudei claro, e agora eu tento mais e as vezes até erro, e ainda estou aprendendo a ser boa e a conviver com a vergonha de ser boa. E até mesmo falar isso sem ter vergonha.
Então aquele medo de dar certo, naquela época, me ajudou um pouco a ver que eu estava desperdiçando potencial. Um tempo depois, principalmente depois que comecei a faculdade, eu percebi que eu não era tão boa assim no sentido de me destacar tanto quanto o pessoal da faculdade, e eu me senti em casa. Porque eles eram bons, e eu gostava de ouví-los falar e se eu falasse algo eles não iriam me achar "boa" demais, e também discordavam de mim e com um jeito bom, e eu aprendi que eu não sabia me comunicar ou expressar as minhas ideias. Eu não sabia ser eu porque me privei por tanto tempo de ser eu com medo de dar certo e eu ter que ser eu o tempo todo que quando pude ser eu me assustei. E agora ser eu é bom, e eu sempre sou eu. Não por medo de dar certo ou por medo de dar errado mas aprendi que independente das coisas darem certo ou darem errado, eu ainda serei eu. E nada me satisfaz tanto quanto eu dar o meu melhor e as coisas darem certo. Mas por estar tão acostumada a errar de propósito, o erro não me afeta tanto, não me cobro tanto pelo erro porque errei tanto porque quis que me acostumei a ele, e as pessoas não se afetam tanto com os erros dos outros também, então se eu me esforço e algo dá errado, eu sei que tudo bem e que há outras oportunidades na vida. Mas quando eu dou o meu melhor ao invés de me desengajar, eu percebo que ainda não sei tudo. E então percebo que mesmo eu, novinha, também tinha medo de dar errado e acabar com a minha própria autoconfiança de ter me esforçado e as coisas darem errado. E aprendo. E ainda não sei lidar as vezes com as coisas dando certo. O que me faz pensar que muitas vezes temos medo das coisas não darem certo porque temos medo de quem teremos que nos tornar para sustentar o quão bom as coisas podem ser, porque muitas vezes apesar de ruins e cansados, estamos acostumados de maneira a permanecer naquilo que nos faz mal porque é o que conhecemos e então buscamos ferramentas para sair desse ciclo (ainda vou escrever algo só sobre ciclos) que não percebemos que gostamos do ciclo porque ele faz parte da nossa identidade e mudar esse ciclo também implica em deixar partes de nós para trás que não queremos mais mas que temos medo de perder. E nisso há um luto, um luto tão dolorido que me preocupa, porque não quero me perder de mim. E se tudo der certo? Há uma beleza nessa pergunta porque nos coloca frente a frente com algumas coisas muito elementares para nossa reflexão. A primeira coisa que nos coloca em contato é O que é dar certo? e a segunda é Quem decide o que é certo? a terceira coisa que nos coloca em contato é Quem eu terei de ser para isso dar certo ou quem eu serei depois de certo? E também uma sensação de perda de propósito, e depois que dar certo, o que sobra de mim?
E é com essa última pergunta que eu chego no dia de hoje e em como esse medo de dar certo e essa frase "muitas vezes não temos medo de que as coisas deem errado, mas que deem certo", me impactou hoje. Não é novidade para ninguém que eu tenho dificuldades em manter minha casa limpa, e passo boa parte da minha vida e da minha rotina pensando sobre a limpeza da minha casa. Hoje minha casa está limpa. E há um vazio. E foi nesse vazio que eu comecei a refletir.O que eu faço com essa energia que antes eu colocava nesse ciclo de autofagia em que me faltavam palavras para dizer o quanto eu não gostava disso, e é em certa medida, parte da minha identidade essa dificuldade, mas e se não fosse? Minha casa está limpa, deu certo! E agora?
E isso me faz pensar em outros assuntos também como relações amorosas, tipo, encontrei alguém pra mim, deu certo, e agora?
E se tudo desse certo? E se eu conseguisse fazer tudo que eu quero fazer? E se eu conseguisse não ser tão desorganizada ou distraída? E se tudo fosse exatamente como eu imagino? E se eu pudesse controlar 100% do meu comportamento e sentimentos? E se eu aprendesse tudo que eu quisesse aprender e se eu já soubesse de tudo que eu queria saber? Quem eu seria? O que viria depois?
O que vem depois de escalar o monte everest? A lua? E depois? E depois?
E na verdade eu não sei onde eu quero chegar com essa reflexão porque não tenho as respostas para isso.
E se todas as árvores que eu plantasse desse frutos ou se eu ganhasse todos as partidas de clash royale?
Acho que alguma hora eu me cansaria, mas talvez eu iria gostar. Mas a verdadeira pergunta é.
Quem eu sou quando as coisas dão certo pra mim?
Será que eu me sinto merecedora? Ou tenho medo? E do que tenho medo.
O fato da minha casa estar limpa me coloca em um vazio, porque eu já não sei em que me sabotar. O fato da minha casa estar limpa me mostra que há um prazer na dor de não dar certo. E sim, eu fico frustrada realmente, mas também tem uma pequena parcela de mim que não está triste, porque me dá propósito. E se tudo der certo na minha vida eu terei que encontrar novos propósitos. E é aí que eu devo chegar, provavelmente. Quais propósitos realmente devem reger a minha vida? E me parece que tudo está em volta da morte. Os meus propósitos de vida relacionados ao impacto na vida das outras pessoas e em consequências e influências na vida de outras pessoas é o que é o mais importante pra mim. Eu poderia ter uma outra vida e morar em um lugar ruim e talvez meu propósito seria morar em um lugar melhor. Como eu poderia estar morando com meus pais ainda e querer morar sozinha. Então morei e deu certo? E aí?
Aí que eu tive que mudar! Eu não sou a mesma pessoa que saiu da casa dos meus pais e ao mesmo tempo eu sou cada dia mais eu mesma do que eu poderia ser. E eu mudo.
E é justamente essa mudança que é inevitável na experiência de ser humano, buscamos a estabilidade mas é na instabilidade que crescemos e nos transformamos. A minha casa está limpa agora e isso abre espaço para outros movimentos, mas também tira a parte de mim que eu depositei tanta energia e que tem dificuldades com limpeza. Se eu não tivesse essa dificuldade, eu ainda teria um pedaço de mim que teria outros aspectos ali, o que provavelmente terei. E com as outras pessoas deve ser bem parecido. E com traumas também, porque dá uma sensação de justiça, manter viva a memória da dor.
Se eu esquecer que fui machucada, não me sentiria justificada em quem eu sou agora da forma que sou, então minha história é importante e perdoar é definitivamente mais dificil quando você lembra das coisas. Mas será que esquecer é a solução? E será que lembrar também é a solução? O que é dar certo nesse caso?
E quando todas as coisas que você planejou dessem certo. E agora? O que te move? O que move teu coração?
Para finalizar a reflexão, retomo na premissa inicial "E se tudo dar certo? Quem é você depois?"







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