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Experimento: Competição e Colaboração

  • Foto do escritor: Mar
    Mar
  • 5 de dez. de 2024
  • 7 min de leitura

Atualizado: 7 de dez. de 2024




Eu e a Competição!

Ao longo da minha vida sempre evitei jogos competitivos e odiava competições que as professoras da escola fazia, tanto aquelas que envolviam trabalho em equipe ou aquelas mais novas como o Kahoot. A primeira vez que me lembro de uma competição na escola foi no jardim, a professora fez duas filas e tinhamos que colocar fósforos em uma caixinha que ia passando de mão em mão. A fila que terminasse primeiro ganhava algumas balinhas e a outra ficava sem nada (que coisa boa hein!). Eu não queria participar. Minha amiguinha pediu para a professora para que ela não participasse, tornando-se então ajudante da prof. Incrível. Interessante. Boa ideia. Tentei o mesmo. Não. Participei. Perdemos. (E na verdade perdemos por uma situação ainda mais profunda e que demonstra ainda mais a falta de noção dessa professora: um aluno da turma provavelmente era neurodivergente e tinha muitas dificuldades, então não conseguiu colocar o fósforo dentro da caixinha, derrubou a caixinha e os fósforos caíram no chão, pegou, tentou guardar, mas até aí a outra fila já tinha terminado, e depois, imagino que pelo motivo de não termos ganhado as balas prometidas, a fila o culpou, brigaram com ele e a professoram obviamente, não manejou a situação). Resumindo: péssimo!

Kahoots eram péssimos. Fiz um cursinho de pacote office e sinceramente: terrível. Usavam o kahoot no final das aulas para dar pontos para os alunos que pontuassem mais. Deixo aqui minha observação de que minha resistência não era com "eu não sou boa o suficiente para competir" e sim "essa competição não faz sentido", justamente porque não fazia sentido pra mim com o objetivo de um curso ou até de uma prova, que seria medir o aprendizado. Não sou contra esse tipo de brincadeira, quando é uma brincadeira. Ou seja, tudo está ligado no sentido final da competição: qual a consequência e o objetivo? Eles estão alinhados?

A competição dos fósforos por exemplo, qual era o objetivo daquilo? Desenvolver coordenação motora fina? Agilidade? Destreza? (pra mim pareceu mais uma tentativa barata de linha de produção taylorista kkkk!). Além da crítica acerca da falha de inclusão, ainda tem a questão da consequência: balas? Para crianças balas são como notas de 100 reais para adultos. E não tem nenhuma relação direta com o possível objetivo da atividade, se é que teve algum, mas estou contando com a boa intenção da professora, claro. Talvez um melhor manejo para essa atividade seria usar música para alguma outra atividade que desenvolvesse a mesma habilidade alvo, ou dar bala para todas as crianças e não ter consequência direta na vitória, porque o mais importante seria o aprendizado do processo, então a competição seria utilizada ali como uma ferramenta motivadora e não como o centro, porque nesse caso acredito que a coordenação em si tenha sido secundária (já que muitos alunos nem mesmo tiveram a oportunidade e o tempo de tentar colocar o fósforo na caixinha), o que leva para mais uma crítica que é a de deixar os alunos que estavam após o menino que derrubou a caixinha tentar colocar os fósforos também.

No entanto, deixo a observação de que amo jogar jogos de tabuleiro, competitivos, e vencer também hehe. Mas é um jogo pelo jogo, não está ali em cheque minha inteligência, minha capacidade de qualquer natureza (ou pelo menos não interpreto que esteja). Também é por isso que eu não me importo o suficiente se eu vencer ou não, mas se o jogo em si foi divertido. Talvez isso também esteja relacionado com meu "vício" em manter as coisas divertidas e minha aversão àquilo que é "chato", já que as vezes, a competição é meio chata. Ainda assim, amei jogar War! (em duplas!)


Competição coletiva x Competição individual.

Novamente, no próprio processo de escrever percebo as minhas próprias contradições em relação à colaboração e competição. E penso sobre a essas contradição na diferenciação de uma qualidade de competição, isso é, competição pode ser definida como dois (ou mais) organismos buscando um recurso escasso em detrimento dos outros. Por isso a competição pressupõe escassez (seja ela artificial ou concreta/natural), mas nesse sentido, isso significa que nem todas as competições são iguais. Há competições individuais, mentais, esportivas, coletivas, retroativas, etc.

E as minhas reflexões e até dúvidas em relação a isso é: qual a influência do tipo de competição no engajamento de alguém com alguma atividade?

Em competições individuais eu geralmente não me sinto particularmente engajada, mas em competições coletivas me engajo mais. Por que? (fica pra próxima…).


Enfim…

Vivemos em um mundo competitivo, isso é fato, há competição na natureza e também há competição em nossa sociedade, mas o quanto será que amplificamos nosso espírito competitivo em relação ao nosso espírito colaborativo de forma desnecessária e ainda prejudicial para nós e os outros (indefinido outros, outros no geral)? Ou, qual tem um motor maior de execução e cumprimento de objetivos educacionais e de ensino quando comparados diretamente?

Vale dizer outra vez que: não sou contra competições, amo ver Copa do Mundo, Olimpíadas e outras competições, mas me pergunto se o excesso de competição é uma coisa prejudicial para a sociedade no geral.

Mas para esse post, principalmente, penso justamente na contraposição entre Colaboração e Competição.

Nisso, há alguns fatores para considerar ao se montar uma atividade para crianças:

  • Qual o objetivo da atividade? (isso é importante porque o objetivo deve ser cumprido no processo da atividade)

  • Qual o nível de engajamento que as crianças apresentam em atividades competitivas e colaborativas? (O engajamento em uma atividade é primordial, principalmente porque sem engajamento, pouco ou nenhum objetivo pode ser atingido)

  • Como as necessidades e particularidades individuais serão incluídas e consideradas? (As diferenças tem que ser consideradas ao pensar em uma atividade para a melhor inclusão de todos os participantes).

  • Qual a consequência pós-atividade? (um prêmio? Fazer festa? etc…)

Com esses devidos pontos apresentados, penso em um possível experimento relacionado justamente à essa comparação entre esses duas formas de fazer atividade:

Antes de fazer isso (nossa, parece que vou vender um curso no fim desse post (quero fazer um post sobre isso também kkk), vamos falar um pouquinho sobre a colaboração até irmos ao experimento de fato. (será pouco)


Eu e a colaboração.

Sobre a colaboração em si não há muito o que falar, ou pelo menos a elaboração fica mais complexa porque os pensamentos acerca da colaboração estão mais emaranhados e pouco sedimentados por enquanto, então apesar de haver muitas possibilidades de abordagem desse assunto, é justamente essas quase infinitas possibilidades que impedem uma forma mais simples de falar sobre isso e até para manter o tema comparando-o com a competitividade.

O que pensei foi acerca de jogos de tabuleiro colaborativos, que há maneiras divertidíssimas de interagir (até com crianças), pela forma de jogos colaborativos, onde todos se juntam em prol de um objetivo. Porque se for parar para pensar, tanto uma atividade competitiva, quanto uma atividade colaborativa possuem uma mobilização (coletiva ou individual) em prol de um objetivo, a diferença é que na competição esse objetivo está intrinsicamente relacionado com o não cumprimento do objetivo do outro. Não consigo pensar em um tipo de competição que não haja duas forças em atrito.

No caso da colaboração esse atrito não é intrínseco. Na natureza essas interações (pelo menos em alguns animais próximos evolutivamente a humanos) tem uma implicação clara na sobrevivência da espécie (então de certa forma, mesmo em competições individuais, como em cortejo e reprodução, há uma ideia de sobrevivência coletiva da espécie no geral) em relação à seleção natural, porém em humanos há pouco benefício coletivo “sobrevivencial” em competições, por isso, questiona-se a legitimidade disso, ou pelo menos, sua importância e impacto.

Acabei falando ainda mais da competição, justamente porque esse é o padrão em voga nas escolas, mas talvez explorar e evidenciar essa questão de busca de objetivos em uma atividade colaborativa seja uma forma de aumentar o engajamento na atividade.

Cuidados -

É importante dizer aqui que não sou profissional de educação ou nada parecido (justificativas kk), e também não pretendo universalizar minha resistência com a competição à todas as crianças ou à todas as pessoas. Entendo que pode haver situações em que a competitividade é positiva (ideia para outro post?). Mas aqui é justamente um questionamento ao padrão vigente competitivo presente na vida escolar. E reflexões desimpedidas, e despretensiosas sobre todas essas questões. Dito isso, vamos para o experimento.


Experimento.

Quero por à prova a ideia da competição, será que é tudo isso? Será que é mais eficiente? Será que é melhor? Como ela se compara com outros modelos de atividade em relação aos objetivos propostos?

Duas turmas de uma mesma idade têm uma atividade com um objetivo em comum: montar uma torre utilizando blocos. O primeiro grupo será avaliado competitivamente e o segundo colaborativamente.

Nesse experimento simples muitas variáveis podem ser exploradas, por exemplo:

  • Se tem diferença quando uma professora grita palavras de motivação, como “vai!” “isso mesmo!” “continuem”. E nisso, pensar se tem diferença no grupo de competição, em relação a se um grupo recebe isso e outro não.

  • Também pensar na questão dos recursos, se na parte competitiva eles compartilham os recursos ou se eles tem recursos separados e qual a implicação disso.

  • Se tiver um um reforçador arbitrário (um doce para o cumprimento do objetivo) como isso afeta a motivação, tanto colaborativamente quanto competitivamente.

  • Avaliar a qualidade das construções, se eles priorizam o tempo, a quantidade, a qualidade, etc.

  • Avaliar a motivação ao longo do tempo, em relação ao desempenho individual e coletivo, tanto na parte colaborativamente (porque há uma ideia de que se a responsabilidade é de todos, apenas alguns fazem, mas seria interessante ver isso na prática) quanto competitivamente (será que haveriam mais conflitos?)

  • Avaliar efeitos emocionais resultantes e seus impactos

  • Pensar em explorar variáveis na quantidade de grupos na parte de competição, os impactos de ter mais ou menos grupos competindo.

  • Avaliar os impactos de uma possível consequência punitiva, como “O grupo perdedor não vai no parquinho” ou “Se vocês não conseguirem, vocês não vão no parquinho”.

  • Avaliar diferentes formas de critério também, em relação a tempo, tamanho etc.

  • Como ambas atividades impactam o psiquismo e visão de mundo das crianças? Que visão de mundo queremos construir?


Eu particularmente tenho a sensação de que exploramos pouco atividades colaborativas, então esse tipo de experimento mostraria os limites e potencialidades delas, assim como contrastaria com as atividades competitivas, dando de certa forma, mais variabilidade comportamental para as crianças e não ficando limitados apenas a uma lógica competitiva.

Se um dia eu tiver dinheiro e capacidade intelectual, gostaria muito de fazer esses experimentos, considerando variáveis.

Por hoje é só! Volto depois :)))))

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