Loucura e Testemunha - Poema
- Mar
- 17 de jun.
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A voz desalmada lhe entrega o desenrolar da narrativa
E em sôfregos suspirantes se coloca nua
sua presença é holográfica, serve para me transportar
ao mundo
do pássaro
pesado
do rato
pegajoso
e do cão
gigante
todos mortos
Minha loucura não tem testemunha
poucos assistem meu desatino
Ninguém, senão os personagens que me observam e refletem também minha psiquê
Personagens esses que criados, por mim ou outrem
de pessoas
reais
e imaginárias
não me deixam nem completar a frase
mas em algum lugar são perfeitos
Rio, de sarcasmo
de dor
de graça, mesmo
Minha loucura não tem testemunha porque não é mais crime ser louca
não vão me colocar no hospício
prometa!
Mas se eu falar demais,
Se eu ousar
me revelar
Serei desequilibrada em um mundo que ainda não decidiu suas próprias réguas
E claro,
Se eu ousar
me revelar
Serei teimosa, mas na verdade teimarão comigo
Sem saber da história
Como podem ser tão confiantes em sua própria ignorância?
Como ousam ditar as regras da minha própria revelação?
É claro que a minha loucura
tão íntima e particular
Não tem testemunha
Porque não há de ter desgaste no processo de enlouquecer
Se enlouqueço com plateia
É teatro
Minha loucura tem que ser livre
Já me bastam as barreiras invisíveis, pois poupe-me de ter olhar
.
Os elementos da loucura se compõem
aqui dentro
na solidão voluntária.
Orgulho
e medo
inveja, comparação, desgosto e nojo
Ninguém é perfeito o suficiente para me amar
Ou para eu amar?
Porque eu ainda não aprendi
Nem a enlouquecer em conjunto
nem a arte de perdoar
o mais pequeno deslize
(menor, menor, menor, menor - já não vou me perdoar).
E também não te perdoo não.
Jamais.
Claro, não há mudança
em nada do que faço fora
mas algo
dentro
aqui, agora
muda
porque não posso gritar
minha tola insegurança
O fato é que é melhor deixar pra lá
A minha loucura não tem testemunhas.
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