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Ordem, Progresso e... Esperança?

  • Foto do escritor: Mar
    Mar
  • 30 de jun.
  • 7 min de leitura

Atualizado: 2 de jul.

A Construção de Uma Identidade (Patriótica) Brasileira.

Esse tema é muito complexo e confesso que não tenho toda capacidade de escrever sobre isso ainda, mas vou escrever tudo que penso. Vem aí.


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Ultimamente, acredito que seja de uns anos pra cá, talvez ainda mais intensificado pela pandemia, no qual o uso de celular e redes sociais aumentou e venho percebendo que a imagem do Brasil tem sido exportada como um estilo de vida, como uma exportação de cultura mesmo. Essa exportação pode ser vista tanto de uma maneira "softpower", quanto de exportação de estereótipos, vamos falar disso ja já também. Nesse movimento de olhares externos voltados para o Brasil podemos pensar em várias dimensões, no contato do país enquanto entidade unificada para a visão de uma identidade brasileira. Isso contém várias implicações (que vou discorrer mais a frente), porque insere a figura de um Outro em nossas próprias interações.

Vamos dar início a isso com um esquema para explicar como esse fenômeno acontece, na minha percepção (e com isso deixo claro que a partir de agora vou falar como se tudo isso fosse verdadeiro, porque é um ponto de vista, sintam-se livres para ter visões diferentes):

A interação dos brasileiros de forma geral, inicialmente, na internet, era mais em relação estado x estado, no qual as diferenças estaduais eram percebidas não como dissonância de uma identidade brasileira maior, mas como simplesmente identidades estaduais. Várias dessas identidades visuais podem ser pensadas quando pensamos, por exemplo, biscoito x bolacha ou como chamar certos pratos de festa junina. por exemplo. Essas interações estaduais não são voltadas à um público externo, são dinâmicas internas, porém, ao criar uma identidade brasileira como povo, a interação não se dá entre pares, mas com o olhar externo do estrangeiro (que geralmente tem uma cor, uma nacionalidade e um poder aquisitivo específico, mas isso também é variável e não fixo).

Algo importante a ser mencionado é a questão da linguagem, infelizmente não sou linguista e não tenho como saber, mas acredito que de uns anos para cá o anglicismo aumentou consideravelmente. A linguagem é ao mesmo tempo reflexo, produto, causa e consequência de cultura. Particularmente acredito que é necessário um cuidado com a língua portuguesa, para não reduzi-la em complexidade e não acabar falando inglês traduzido (o que já acontece relativamente em alguns contextos). Sei que esse assunto é polêmico, porque entendo que é um preciosismo da minha parte, já que a própria lingua portuguesa e as línguas de maneira geral sofrem influência política e social de quem detém a hegemonia de poder vigente. Se antes chamávamos o produto que deixa as bochechas vermelhas de Rouge, agora o substituímos por Blush e esse é um movimento comum, mas é importante refletir em até que ponto estamos descomplexificando a língua para caber em léxicos que não necessariamente reflete a nossa maneira de pensar. A ordem das palavras, no português, é algo importante: se digo grande menina e menina grande, ainda que a diferença seja simplesmente a ordem das palavras, o sentido da frase muda completamente. Uma tendencia que venho observando atualmente é que muitos adjetivos que antes vinham depois do substantivo, agora estão sendo colocados antes, acredito que essa é uma influência do inglês, já que no inglês, o adjetivo vem antes naturalmente, porém o português permite essa variação com nuances mais socialmente definidas. São nesses detalhes que é possível perceber o aumento do contato com o mundo de uma forma mais difusa. Se antes uma pequena elite tinha acesso aos conteúdos de fora e eram espalhados de cima para baixo, agora esse conteúdo chega individualmente em diferentes classes sociais e também em diferentes subculturas.

Por exemplo, na subcultura do trap brasileiro, há muita influência de fora e também muitos estrangeirismos, na subcultura do skate, do kpop, entre outros.

Se antes estávamos relativamente isolados por uma cultura que interagia entre si e produzia coisas para si, agora consumimos grande conteúdo de fora e ao mesmo tempo somos vistos e convidados a criar o que eu chamo de uma identidade unificada brasileira. Vale dizer que isso não é uma coisa nova, o Brasil sempre consumiu coisas de fora e sempre interagiu com outras culturas, porém, antes assimilávamos e adaptávamos os elementos externos transformando-os em brasileiros, vemos essa assimilação na culinária por exemplo, como esfihas, pizzas, kibes, que são pratos estrangeiros mas que foram adaptados (e muito) pela cultura brasileira de forma que a pizza brasileira poderia ser considerada no máximo prima da pizza italiana.

Ao interagirmos com outros, porém, e com a crescente exportação de cultura brasileira a fora nos deparamos com algumas cristalizações, e aí moram perigos e possibilidades: muitos estereótipos são exportados também. E é preciso tomar cuidado para não construirmos todas as nossas subjetividades a partir do que contam sobre a gente.

Com o olhar do outro percebo um aumento do contraste entre o Orgulho Brasileiro e o que chamamos de Viralatismo, e por que há tanto contraste? Porque temos esperança e ressentimento.

Obviamente essas duas coisas são complexas, mas o orgulho brasileiro e uma identidade unificada brasileira, verde e amarela são exportadas e gostamos quando outros gostam da gente, o que aumenta nosso Orgulho, ao mesmo tempo, estamos cegos para nossas próprias características porque interagíamos unicamente uns contra os outros (ou uns com os outros xd). O ressentimento e a esperança estão intimamente ligados porque temos ressentimento do potencial perdido enquanto nação e esperança de que um dia o Ideal Brasileiro ou o Sonho Brasileiro seja botado em prática, há uma frustração em ser sempre o país do futuro enquanto temos que todos os dias colocar um sorriso no rosto para viver a vida dura mais um dia. Mas isso não nos para. Continuamos seguindo e batalhando por um amanhã melhor e na verdade, o problema maior é que estamos desorganizados enquanto povo e é aí que a possibilidade de uma criação de identidade brasileira surge.

Não apenas aquela exportada mundo a fora e que eles nos conhecem, não precisamos seguir os scripts (ó o anglicismo aqui hein kkk) dos estereótipos brasileiros, mas aproveitar as oportunidades enquanto nação para estrategicamente utilizar essa exportação ao nosso favor. Não é bom que nos conheçam apenas como estereótipo, não é bom que tenhamos apenas uma história sendo contada. Talvez, essa energia que nos une seja realmente um elemento importante a inspirar outras nações e povos, mas não deve ser a única, porque temos potencial de sermos mais do que apenas uma nação verde e amarela. Ainda há um milhão de cores entre o azul e o branco. E também no vermelho do nosso sangue escorrendo todos os dias quando um trabalhador não chega em sua casa antes do sol se por.

O problema é que estamos desorganizados, mas somos muitos e também somos brasileiros.

A criação de uma identidade brasileira também perpassa pelos contrastes internos e pelas oposições a essa identidade criada, mas acredito que isso é comum, mas também é preciso tato para lidar. Por historicamente sermos um país que tem muitas imigrações, há de se tomar o cuidado para que não nos transformamos como os americanos que se categorizam pela sua história pregressa imigratória e consideram-se diversas nacionalidades mas não americana. Para isso, será necessário discussões sérias sobre raça, sobre como as identidades individuais (e regionais) brasileiras são formadas a partir das visões que temos internamente, sem a importação de pautas E TERMOS estrangeiros, então será necessário estudos produzidos aqui, ainda que erramos, mas com uma identidade, no mínimo, latino-americana que respondam as nossas necessidades.

Além disso também considero pensar (e valorizar) nossas subculturas.

Por fim, venho retomar um pouco o título do texto: ordem, progresso e esperança?

Isso, porque sinto que estamos passando por um momento de transição nacional para aquilo que chamo de patriotismo brasileiro, realmente brasileiro. Sinto que esse patriotismo que nasce hoje pela manhã é um patriotismo ainda pautado naquilo que os outros dizem sobre nós (youtubers gringos fazem muito sucesso hoje em dia, mas eles também podem sem um elemento importante naquilo que se entende por visão externa do brasil, e também é um movimento muito lucrativo falar bem do Brasil porque precisamos dessa validação externa). Mas, apesar dessa característica de necessidade de validação externa, essa tendência é um movimento importante para a criação de uma confiança que nos reafirme como país. Podem me chamar de idealista, tudo bem. Mas a medida em que o Brasil cresce no cenário nacional como um "branding" podemos nos aproveitar desse movimento (talvez puramente mercadológico e comercial) e mostrar novas histórias, novos talentos, uma nova perspectiva. Porque temos capacidade (e recursos) para isso, só precisamos aproveitar a onda.

Amanhã, esse fenômeno que parece puramente estético, pode vir a ser uma virada de chave naquilo que entendemos como falta de um plano de desenvolvimento nacional, a frustração e ressentimento hão de ser transformadas em gasolina para o trem do desenvolvimento andar rumo a uma organização social mais equilibrada com as nossas próprias características, sem basearmos nossos desejos e aspirações naquilo que o de fora faz. Com isso não quero dizer que o conhecimento estrangeiro não é importante e deve ser descartável, longe disso, a diferença aqui está em, antes de nos submetermos à ideais externos, possamos construir nossas próprias aspirações enquanto nação.

E com isso finalizo meu desabafo, observação proto-sociológica e grito de esperança, progresso e ordem (mas também uma pitada de caos), sobre aquilo que chamo de meu país, e lar. Entendo que muitos assuntos tenham ficado de fora, mas um dia talvez eu me aventure novamente para falar desse assunto aqui outra vez. Fiquem bem, até mais!


https://www.youtube.com/watch?v=zMM2mhZje10 - Esse vídeo é um reflexo justamente desse fenômeno que falo aqui, o youtuber em questão foca mais no aspecto da moda e em como a criação de um "Brazilian Core" afeta nossas próprias expressões de estilo, além de falar também um pouco da massificação da identidade brasileira. A parte mais interessante do vídeo desse menino é o chamado para uma valorização do que conhecemos como "Brasil" sem a necessidade de validação dos estrangeiros, que se alinha bastante com o que eu proponho aqui também.




:))))

 
 
 

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