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Tudo muda! E agora?

  • Foto do escritor: Mar
    Mar
  • 22 de jan.
  • 7 min de leitura

Sabe aquele momento em que você sabe que ao tomar uma decisão tudo na sua vida muda?

Just Because It Burns It Doesn't Mean You're Gonna Die
Just Because It Burns It Doesn't Mean You're Gonna Die

Seja qual for a mudança que ocorrer, se ela possui impactos significativos em sua vida, então ela vai te influenciar de alguma forma. Com isso tudo eu quero dizer que eu mesma estou passando por um grande processo de mudança (inesperada) e com isso percebo que há diversas coisas para se refletir acerca desse momento e em como esses momentos me influenciam. Compartilho abaixo algumas reflexões sobre essa nova etapa.


MUDANÇA E MEDO

Quase que inevitavelmente mudanças causam medo. Devido seus aspectos de novidade, novas habilidades deverão ser aprendidas e com essa necessidade, alguns pensamentos de dúvidas podem vir a tona. É importante ouvir o medo, pois só através do medo que conseguimos exercer a coragem (vou escrever um post somente sobre isso também). Além disso, é importante ouvir o medo para entender melhor as raízes desse medo e quais partes específicas eliciam uma resposta de medo. Por exemplo, se eu digo que tenho medo de pegar ônibus, tenho que pensar no porquê tenho medo e do que exatamente tenho medo. (É um exemplo verdadeiro, na verdade hehe). Mas de qualquer forma, é importante pensar nos detalhes do medo porque ele se expressa em diversas formas e o quanto mais descritivo for, melhor será para entendê-lo. Voltamos ao exemplo do medo de ônibus, se eu dissesse para alguém que tenho medo de ônibus a pessoa faria certas suposições acerca dos motivos, como "ser roubada", ainda que ser roubada é um medo que também pode ser descrito de diversas outras maneiras, mas nesse caso, não tem relação com o meu medo direto, que é a "burocracia em descer, trocar dinheiro, etc" nos ônibus. Então, os conselhos para o mesmo medo, seriam inteiramente diferentes, simplesmente porque a descrição do medo não foi bem dita inicialmente. O medo de ônibus pode ser fragmentado em diversos pedaços e assim ter uma compreensão mais precisa do que ele representa e também em como vamos superá-lo. Mas o foco desse post na verdade é o medo atrelado à mudança. Obviamente, o exemplo do ônibus ainda é relevante porque meu medo de ônibus é literalmente decorrente dessa mudança, e do fato de que agora eu tenho que encarar esse medo. Sei que consigo, mas o processo é doloroso.

O medo de mudar as vezes pode nos causar paralisação assim como outros medos também. Mas é através da própria mudança que percebemos que "o medo é o precursor da coragem" (Obrigada Blink por essa frase, te amo!). E uma mudança é necessária justamente para nos colocar em contato com aquela parte de nós que precisa ser olhada, apreciada, querida, amada e que clama por desenvolvimento.

O medo que acompanha a mudança é um medo masoquista, porque tem em si o prazer de sua própria superação. Talvez todos os medos tenham esse teor masoquista, e talvez essa frase é até meio psicanalítica, mas há um prazer no medo, assim como um prazer na superação do medo e esse prazer é proporcional à justa parte de medo encarregada naquela situação. Ou seja, o prazer da coragem é proporcionalmente adquirido através da quantidade de dissipação da tensão daquele medo, mas será que isso pode ser treinado também? (Vou até usar essa frase para começar o post falando sobre coragem, medo e afins).


MUDANÇA E SACRIFÍCIO

Muitas mudanças exigem respostas rápidas e demandas que necessitam de grande energia. É uma disposição do ser, é uma dispensação de energia em direção àquela mudança. E é importante entender que ao decidir por alguma mudança, essa mudança não é apenas de rotina, ou uma mudança ambiental, mas sim uma mudança que te altera como pessoa, seja fisicamente, mentalmente, psicologicamente ou de qualquer outro modo que você possa imaginar. É necessário um sacrifício do eu, para abrir espaço para novos pedaços de si querendo acordar. Importante dizer também que a culpa deve ser evitada, e cada momento de sacrifício deve ser ponderado para que sejam sacrificadas apenas partes de você que não lhe caibam mais. Para que assim, haja mais espaços para as borboletas.

É que para mudar, é preciso sacrificar partes de você, deixar pra trás algumas coisinhas. Mas também é preciso refletir sobre quem você é, tudo ao mesmo tempo, tudo de uma vez só. E quem é você? Na verdade, quem sou eu?


MUDANÇA E LUTO

Estive pensando que luto não se refere apenas às pessoas que perdemos ao longo do caminho, mas à todas as coisas que nos acostumamos e que eventualmente temos que deixar para trás. Um caminho que andamos todos os dias, uma pessoa que falamos regularmente, um tempinho de descanso depois do almoço, o cochilinho antes da aula, ficar abraçadinha com a gatinha depois de dar aula, fazer academia, ver minha amiga todo dia, almoçar em casa, etc.

Independente do que sejam os costumes anteriores à mudança, o processo de deixá-los para trás se assemelha com um luto. Porque deixamos de ter contato com todas aquelas coisas que fazíamos e até mesmo nós nos transformamos, sendo ao mesmo tempo um luto de nós mesmos.

O cristianismo diz que a salvação vem do renascimento, que é o batismo, mas a morte diária daquilo que você foi é também um poço de dor e luto, com grande água, pois a cada mudança, um pedaço de você morre, mas não necessariamente se perde, apenas se transforma e flui como toda morte. Uma das cartas de tarot mais famosas é justamente a carta da morte, confesso que não acredito necessariamente em tarot, mas admiro a coragem de colocarem uma carta chamada morte que significa, em última instância, transformação, mudança.

As mudanças são necessárias e inevitáveis, a morte é também necessária e inevitável, e o luto? Necessário e inevitável. E a parte mais difícil dessas mortes metafóricas é justamente a falta de rito, um pedaço morre sem saber que era pedaço. E a gente nunca sabe quando vai ser a última vez. A gente diz adeus (ou tchau), mas não sabe se é para sempre ou até logo. Até mesmo quando dizemos até mais, até mais ver, até amanhã, é apenas um prelúdio, um ensaio instrumental de uma banda que talvez nunca chegue a tocar outra vez. Acredito que a vida tenha grandes alegrias para frente, ainda que não sabemos qual música vai tocar, podemos nos divertir com as comidinhas da festa. E daí quando a festa acabar, e de manhã acordarmos, deixaremos nossos corpos no dia anterior, e acordaremos com novos esqueletos, de caminhada, de sorrir. Compraremos novas máscaras para a festa de amanhã, mas a de ontem não poderemos mais ver, e na verdade, ela nem é mais interessante. O luto está na dor de tentar colocar uma máscara para uma festa do passado e perceber que ela não lhe cabe mais. Mas, qual parte da máscara de ontem estará aqui comigo hoje? E amanhã?

Qual pedaço meu de ontem morrerá em mim hoje?

Que parte de mim devo deixar morrer? Quais definições? Quais nomes? Quais adjetivos?

No que ela se transformará?

Como posso me acostumar com novas máscaras?

E por que máscaras afinal?

Não seria a minha própria pele se transformando?

Quando uma cigarra deixa um pedaço de si para trás, era apenas uma máscara?

Será que a cigarra sente falta de sua pele deixada para trás?



MUDANÇA E MUDANÇA

Lidar com a própria mudança é difícil, não apenas lidar com aquilo que você perdeu, mas também se acostumar com o novo que chegou. Nem tudo é luto, as vezes é simplesmente falta de costume, por ser tudo novo. Então, tomar consciência de que o próprio processo de mudança, por si só, é complexo, ajuda a entender as especificidades de cada tipo de mudança e entender os processos internos também, sejam eles sacrificiais, sejam eles de luto, medo ou outros que são acarretados pelo próprio processo de mudança e assim atravessá-lo com mais sabedoria, mas sem deixar de sentir e aproveitar realmente a mudança. Não se trata de intelectualizar a vida, pelo contrário, é entender as engrenagens que me move para que eu possa escolher o meu caminho. É entender como EU funciono e respondo à vida, para que eu possa respondê-la de maneira a me orgulhar, a sentir de maneira mais profunda, a realmente viver e parar de sobreviver. Sempre tive medo de só sobreviver e não viver (vou fazer um post sobre isso), mas no fim das contas, todos esses processos me fazem agradecer pela oportunidade que é a vida. A vida por si só já é mudança, porque nada é parado, tudo tem história. Ainda que seja uma história de estagnação e repetitiva, ainda que todos os dias o caminho seja o mesmo, isso é história também. E como um poema que se repete a cada verso, podemos entender para além do alfabeto, qual é o verdadeiro significado de poesia.



NEM TODAS AS ÁGUAS SÃO LÁGRIMAS

Ou seja, a mudança também pode trazer coisas muito positivas na vida. E isso é muito legal. Por que a medida em que o luto inicial é superado, um novo ser emerge das profundezas de seu próprio ser e interage diretamente com a vida em que ele construiu e foi construído nela. É um metabolismo. A medida em que eu interajo no ambiente, sou transformada, tudo ao mesmo tempo e muitas vezes até inconscientemente. Por isso, há beleza na mudança. Há beleza em um novo caminho que há de se tornar velho. Há beleza em dizer adeus para as coisas velhas do capítulo anterior. Há beleza nas lágrimas de emoção por um capítulo novo. Há beleza na vida. Há beleza em estar só. Há beleza em estar acompanhada. Há beleza. E que eu possa reconhecê-la, cada dia mais, cada dia melhor. E que ainda que haja muitas lágrimas, nem todas as águas são lágrimas, e ainda melhor, nem todas as lágrimas, são tristes.




"Just because it burns doesn't mean you're gonna die" but if means you're gonna die. I hope you can say "I lived", and revive, as much as its needed.

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